Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 34 do Centro Litoral ou das Beiras para a ceifa dos cereais, mas pessoas recrutadas noutros países (os trabalhadores imigrantes). Esta realidade tem hoje uma dimensão incontornável pois, apesar da sua grande invisibilidade social e estatística, não faltam notícias e evidências da sua relevância. A motivação central para esta importação de traba- lhadores são os diminutos salários que lhes pagam e a dependência, em que ficam, das entidades con- tratantes. A estes dois aspetos acresce ainda – como antes com os ranchos migratórios – as muito defi- cientes, e com frequência inaceitáveis, condições de vida e de trabalho a que estão sujeitos [Caixa 3]. 7. Aqui chegados, para além da informação reunida no Anexo, ficam alguns destaques de uma observa- ção, na atualidade, do trabalho nas grandes moda- lidades da agricultura do Continente português – agriculturas familiares e não familiares – e na hor- tofruticultura (ver Anexo). • Desde logo o quadro geral: a) mais de 90% das unidades de trabalho concentram-se nas agricul- turas familiares que, contudo, em média, empre- gam pouco mais de uma pessoa a tempo com- pleto – o que compara com cerca de seis vezes mais na grande agricultura não familiar; b) o enorme fosso nos valo- res económicos gerados por unidade de trabalho entre agricultura fami- liar e não familiar: nesta, mais de 9 vezes os rédi- tos, médios, por exem- plo, da agricultura fami- liar em que prevalecem as pensões nas fontes de rendimentos exteriores à atividade da exploração. • Naturalmente, o trabalho assalariado está sobre- tudo alocado às agriculturas não familiares (mais de 65%), fatia que tem um aumento expressivo no que respeita aos trabalhadores permanentes (acima de 80%); todavia, é relevante a partição entre modalidades de agricultura no tocante aos assalariados eventuais: a parcela maioritária tem o seu desempenho nas agriculturas familiares. • Ainda não são as orientações produtivas horto- -arborícolas que dominam o trabalho agrícola (43% do total das unidades de trabalho). Entre- tanto, vislumbram-se diferenças no tipo de mão- -de-obra mobilizada por estas orientações: a) de imediato, a proximidade de importância do tra- balho familiar e assalariado na horticultura, o que não é o caso na arboricultura que, em linha com as demais orientações técnico-económicas (OTE), persiste na dependência expressiva de trabalho familiar (em redor de 80%); b) depois, a posição cimeira da horticultura no respeitante à afetação dos assalariados, sejam os permanentes, sejam os eventuais; c) em terceiro lugar, o contraste entre a especialização arboricultura e o conjunto de outras OTE: naquela, o ascendente do peso do trabalho temporário, neste, o dos assalaria- dos permanentes. • Maior impacte do trabalho temporário (contra- tado pelo produtor ou através do recurso a ser- viços por terceiros) na arboricultura do que nas unidades especializadas na horticultura, ou seja, nestas, o apelo aos trabalhadores permanentes é mais relevante. • Por fim, no reporte ao tra- balho por contrato de ser- viços a terceiros, seguem- -se, como destaques: a) por um lado, no total do traba- lho temporário, a proximi- dade de peso relativo, nas agriculturas familiares e não familiares, quer na média global dos sistemas produtivos, quer na arboricultura, mas não na horticultura (maior relevância nas agriculturas familiares); b) por outro lado, a supremacia, no âmbito das unida- des especializadas na horticultura, das agricultu- ras familiares face às não familiares no apelo ao trabalho não contratado diretamente pelo produ- … uma profunda transformação tecnológica aparece associada ao desenvolvimento da externalização/terciarização que tem contribuído para reconfigurar o quadro institucional do trabalho agrícola…

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