Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

Trabalho agrícola: percursos e modelos 29 tria e os serviços. Em 1995, já só 12% se dedicavam a tarefas agrícolas. O trabalho regular, com horários rigorosos e, com frequência, distante da habitação, alterou rotinas, obrigou a ajustar os tem- pos dedicados ao trabalho na terra e a adaptar os sis- temas de produção. A par do tempo parcial, consolidou-se também nas aldeias, desde 1969, a realidade das famílias cuja principais fontes de rendimento são as pensões e as reformas. Estas prestações alteraram o lugar dos idosos na vida das famílias: na velhice já não lhes é imprescindível procurar refúgio na casa de um filho ou filha. Passaram a poder sobreviver nas suas casas e terras, mas adequando a produção às capacidades que a idade lhes permite. As famílias agrícolas cuja maior parte do rendi- mento é exterior à agricultura tornaram-se, assim, na segunda metade do século passado, uma reali- dade diferenciada a consi- derar naanálisedo trabalho. Atualmente, correspondem a 82% do número de explo- rações; acresce que 47% mobilizam menos de uma UTA, ou seja, são unidades a tempo parcial, e perto de 50%, adentro das que usu- fruem da maior parte dos réditos do agregado familiar de fora da exploração, têm nas pensões e reformas a fonte prevalecente de rendimento. As caracterís- ticas estruturais das explorações (trabalho familiar ou assalariado; dimensão) e os três aspectos antes referidos – efeitos do mercado; saída continuada de população agrícola; um amplo setor de famílias cujo rendimento é, na sua maior parte, exterior à agricultura – firmaram um (novo) enquadramento dos modelos de trabalho agrícola, cujos contornos atuais são indissociáveis das seguintes dimensões: rutura família/exploração, nas unidades familiares; difusão das tecnologias químico-mecânicas; exter- nalização/terciarização; intensificação do recurso a trabalho eventual, associado ao fortalecimento do setor hortofrutícola. 3. Nas famílias agrícolas, estas décadas marcaram grandes ruturas. Com o êxodo, os filhos passaram a ter alternativas, para além da continuidade no trabalho da terra, nos lugares e montes onde tinham nascido. Os pais deixaram, assim, de ser o exemplo do que os filhos podiam ser, e os próprios pais passaram a reconhecer que permanecer nas aldeias não era a melhor opção. Esta mudança repercutiu-se, de imediato, na vida das famílias. Os que ficavam não tinham a suces- são assegurada, deixavam de sentir a velhice acau- telada e confrontavam-se com menos braços para o cultivo da terra. As pensões e reformas, já antes referidas, amorteceram o medo do envelhecimento, mas para a menor disponibilidade de trabalho foi necessário enveredar pelas novas tecnologias. Os saberes tradicionais aprendidos e transmitidos no seio das famílias tive- ram, assim, que dar lugar aos saberes técnicos que permitem manusear moto- res e estimar adubações. Foi uma alteração decisiva, na relação com o trabalho, cuja aprendizagem teve de se fazer com técnicos ou com vizinhos e familia- res, já mais ilustrados. Foram anos em que as políti- cas de formação profissional tiveram um lugar cen- tral na modernização da agricultura familiar. A crescente escassez de braços e a motomecaniza- ção favoreceram a tendência para a individualiza- ção do trabalho nas unidades familiares, ou seja, A par do tempo parcial, consolidou-se também nas aldeias, desde 1969, a realidade das famílias cuja principais fontes de rendimento são as pensões e as reformas. Os saberes tradicionais aprendidos e transmitidos no seio das famílias tiveram, assim, que dar lugar aos saberes técnicos que permitem manusear motores e estimar adubações. Foi uma alteração decisiva, na relação com o trabalho, cuja aprendizagem teve de se fazer com técnicos ou com vizinhos e familiares, já mais ilustrados.

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