Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 28 2 . Foram décadas, desde os anos sessenta do século passado, em que a popu- lação agrícola continuou a sair , e a querer sair , dos campos: saíram mais de 1 milhão e 600 000 pessoas ligadas a explorações agrí- colas pela residência e/ou pelo trabalho entre 1960 e 1991; de 42% dos resi- dentes em Portugal, o seu significado minguava para 12% em 1991 – repre- senta agora 7%. A população ativa agrícola portu- guesa era, em 2011, de 120 mil pessoas, ou seja, equivalente a 8% da que se recenseara em 1950. A sua composição é agora a seguinte: patrões, 18%; assalariados, 53%; trabalhadores familiares, 29% e outras situações, 1%. Convém acrescentar que o trabalho efetivo na agri- cultura supera o realizado pelos ativos agrícolas. Havia, e há, muitas outras pessoas – residentes no país, ou não – que também se empenham na atividade agrícola. Contabilizando este trabalho e somando- -lhe o efetivamente des- pendido pelos ativos agrícolas, obtém-se um mon- tante que corresponde ao trabalho na agricultura – medido em Unidades de Trabalho Ano (UTA). Mas, com a expressão em UTA, o trabalho agrícola também diminuiu fortemente: teve uma quebra de cerca de 85% de 1950 até 2016. Note-se ainda que uma estimativa (muito débil, dado que pressupõe que todos os ativos traba- lham a tempo inteiro – o que não se verifica) indica que, atualmente, o peso dos não recenseados no setor é superior a dois ter- ços do trabalho na agri- cultura (uma relação UTA/ população ativa agrícola de 2,7). Em meados do século passado era de ape- nas 20%. É o forte prevale- cimento na agricultura do regime de trabalho a tempo parcial, face ao trabalho a tempo completo: nos nos- sos dias, acima de 80%, que compara com cerca de 10% no todo da economia, mas com proporções em redor de 85% no trabalho familiar e de perto de 35% no assalariamento. Uma terceira vertente, com consequências no tra- balho agrícola e na vida rural, resulta de, em mui- tas famílias agrícolas, as suas economias terem passado a depender, na sua maior parte, de rendi- mentos não agrícolas, seja de pensões e reformas ou de salários da indústria e serviços. O trabalho da família fora da exploração era uma ati- vidade frequente e tradi- cional, que levava muitos elementos dos agregados domésticos a assalariarem- -se para aumentarem os magros proventos que arrancavam das suas parce- las ou das que traziam de renda e parceria. Faziam- -no, sobretudo, nas unidades agrícolas de maior dimensão. Na primeira metade da década de cin- quenta, era esta a situação em metade das explora- ções. Com o êxodo dos anos sessenta, este emprego desceu e, em 1968, verificava-se apenas em cerca de três décimos das unida- des. Depois desta última data, voltaria a aumentar, em termos relativos, mas num contexto diferente. O destino dos assalariados já não era as grandes unida- des agrícolas, mas a indús- … desde os anos sessenta do século passado… a população agrícola continuou a sair, e a querer sair, dos campos: saíram mais de 1 milhão e 600 000 pessoas ligadas a explorações agrícolas pela residência e/ou pelo trabalho entre 1960 e 1991; de 42% dos residentes em Portugal, o seu significado minguava para 12% em 1991 – representa agora 7%. … em muitas famílias agrícolas, as suas economias passaram a depender, na sua maior parte, de rendimentos não agrícolas, seja de pensões e reformas ou de salários da indústria e serviços. O trabalho regular, com horários rigorosos e, com frequência, distante da habitação, alterou rotinas, obrigou a ajustar os tempos dedicados ao trabalho na terra e a adaptar os sistemas de produção.

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