Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 20 revisto e publicado em 1930, já em plena Grande Depressão, com o título Perspetivas Económicas para os Nossos Netos 19 . Nesse ensaio, Keynes pro- curava libertar-se do pessimismo induzido pela “depressão que grassa pelo mundo” e “levantar voo para o futuro”. 20 Quais são as possibilidades econó- micas para os nossos netos? – perguntava. “Estamos a ser atingidos por uma nova doença de que alguns leitores podem ainda não ter ouvido o nome, mas de que vão ouvir falar nos próximos anos – a saber, o desemprego tecno- lógico . Isto significa desem- prego resultante do facto de a nossa descoberta de meios de economizar a uti- lização de trabalho superar o ritmo a que conseguimos encontrar novas utilizações para o trabalho”. 21 No entanto, para Keynes, o aumento da eficiência técnica que no curto prazo tinha como consequência o desemprego, signifi- caria, no longo prazo “que a humanidade está a resolver o seu problema económico”, isto é, o pro- blema da escassez. 22 Previa o autor: “daqui a cem anos, o nível de vida nos países progressistas será quatro a oito vezes mais elevado do que hoje”. 23 Assumindo uma sociedade que não fosse insaciável nos seus desejos e se contentasse com um nível de vida oito vezes superior ao de 1930, o produto necessário 19 Keynes, John M. (1930), “Perspectivas económicas para os nossos netos”, Keynes, John M. (2009), A Grande Crise e Outros Textos , Lisboa: Relógio de Água 20 Ibid ., p. 120 21 Ibid ., p. 123 22 Ibid ., p. 123 23 Ibid ., p. 123 poderia ser obtido, repartindo o trabalho o máximo possível, se cada pessoa trabalhasse três horas por dia quinze horas por semana. Dos cenários prospetivos à experiência histórica O que podemos esperar da evolução ou da revolu- ção tecnológica? À luz da ‘teoria da compensação’, acréscimo da produtividade do trabalho e destrui- ção temporária de emprego em alguns setores, contra- balançado por crescimento do investimento noutros setores e a decorrente cria- ção de emprego. Na pers- petiva marxista, desem- prego económico estrutural (duradouro) e empobreci- mento dos que têm e não têm emprego. Na anteci- pação otimista de Keynes, uma sociedade que resol- veu o problema da escassez, se libertou das engre- nagens da acumulação e divide o trabalho necessá- rio em turnos moderados de três horas diárias por pessoa, cinco dias por semana. Mais de oitenta anos decor- reram já depois de todos estes exercícios prospeti- vos. Que avaliação pode- mos fazer de cada um deles à luz da experiência vivida de quase um século? Comecemos pela teoria da compensação. O século XX, ao longo do qual ocorreram importantes vagas de inovação tecnológica, está longe de ter sido um período uniformemente caracterizado por níveis de desemprego reduzidos. Pelo contrário, períodos houve em que o desemprego nos países capitalis- tas mais desenvolvidos atingiu proporções massi- vas, nomeadamente entre 1929 e a Segunda Guerra “Estamos a ser atingidos por uma nova doença de que alguns leitores podem ainda não ter ouvido o nome, mas de que vão ouvir falar nos próximos anos – a saber, o desemprego tecnológico. Isto significa desemprego resultante do facto de a nossa descoberta de meios de economizar a utilização de trabalho superar o ritmo a que conseguimos encontrar novas utilizações para o trabalho”. Mais de oitenta anos decorreram já depois de todos estes exercícios prospetivos. Que avaliação podemos fazer de cada um deles à luz da experiência vivida de quase um século?

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