Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

Tecnologia e desemprego: já aqui estivemos antes 19 é característico” 14 e assesta baterias contra outros “economistas políticos burgueses”, como James Mill, McCulloch, Torrens, Senior e John Stuart Mill, que “insistem em que toda a maquinaria que desa- loja trabalhadores, liberta simultânea e necessa- riamente um montante de capital adequado para empregar os mesmos e idênticos trabalhadores” 15 . Em alternativa, Marx defende que: a) a destruição de postos de trabalho decorrente da introdução de maquinaria no processo produtivo não pode ser compensada pela criação de emprego na pro- dução da mesma maquinaria 16 ; b) a destruição de trabalho decorrente da mecanização numa indús- tria pode ser acompanhada da criação de emprego noutras indústrias numa quantidade (superior ou inferior à quantidade de emprego destruída) que depende da evolução da duração da jornada de tra- balho nas diferentes indústrias e do rácio entre as componentes do capital constantes (aplicado em meios de produção) e variáveis (aplicado em salá- rios). O capítulo 25 de O Capital é dedicado precisamente a analisar, em primeiro lugar, o efeito da acumula- ção de capital no emprego, em condições em que esta acumulação ocorreria mantendo-se constante a proporção entre a parte constante e a parte variá- vel do capital (isto é, em que não existisse substi- tuição de trabalho por máquinas) e, em segundo lugar, em condições mais próximas da experiência histórica em que a proporção do capital constante no capital total aumenta. Marx concluía que, caso a acumulação de capital se desenrolasse mantendo constante o rácio entre 14 Marx, Karl (1867), Capital – A Critique of Political Economy , Vol. 1, Cap. XV, nota 132, disponível em https://www. marxists.org/archive/marx/works/1867-c1/ 15 Ibid ., Cap. XV, secção 6 16 “O novo trabalho gasto nos instrumentos de trabalho… deve ser necessariamente menor do que o trabalho desa- lojado pelo uso da maquinaria; de outro modo o produto da máquina seria tão caro, ou mais caro, do que o pro- duto do trabalho manual.”, Marx, ibid as partes constante e variável do capital (sem subs- tituição de trabalho por máquinas), a relação de dependência do trabalho relativamente ao capital poderia assumir uma forma “suportável”. O desem- prego poderia não aumentar e os salários poderiam mesmo subir. No entanto, no caso mais realista do crescimento do capital ser acompanhado de substituição do tra- balho por máquinas, a situação seria outra. Nes- sas condições: “Quanto maior é a riqueza social… a massa absoluta do proletariado e a produtividade do seu trabalho, tanto maior é o exército industrial de reserva… Mas quanto maior é o exército indus- trial de reserva relativamente ao exército de traba- lho no ativo, tanto maior é a massa consolidada de população excedentária, cuja miséria é inver- samente proporcional ao seu tormento no traba- lho. Quanto mais extensivas, finalmente, são as camadas pobres da classe trabalhadora e o exér- cito industrial de reserva, tanto maior será o paupe- rismo oficial. Esta é a lei geral absoluta da acumula- ção capitalista . Como outras leis, ela é modificada no modo como opera por muitas circunstâncias, de cuja análise não nos ocuparemos aqui.” 17 Em suma, para Marx, acumulação de capital com mecanização, desemprego (crescimento do exér- cito industrial de reserva) e pauperização dos tra- balhadores estavam ligados numa cadeia de causa- lidade. As máquinas em si não eram “responsáveis pela ‘libertação’ dos trabalhadores dos seus meios de subsistência”. No entanto, as mesmas máquinas que representam “uma vitória do homem sobre as forças da Natureza, nas mãos do capital fazem do homem um escravo dessas forças.” 18 Perspetivas para os nossos netos Em 1928, John Maynard Keynes dedicou várias con- ferências a um exercício prospetivo que viria a ser 17 Ibid ., Cap. XXV, secção 4 18 Ibid ., Cap. XV, secção 6

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