Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

Tecnologia e desemprego: já aqui estivemos antes 17 Embora fossem contemporâneos destes aconte- cimentos dramáticos, os primeiros economistas políticos, para quem a aplicação de maquinaria se traduzia sobretudo num virtuoso incremento da capacidade produtiva do trabalho humano, teste- munhavam-nos com complacência. No entanto, a publicação, em 1817, de um opúsculo de John Barton veio pôr termo à indiferença dos economistas políticos acerca das consequências da mecanização no emprego e nos salários e abrir um debate que se haveria de prolongar ao longo de todo o século. 6 Nesse opúsculo, Barton questionava a crença dos economistas políticos na articulação virtuosa, esta- belecida por Adam Smith, entre o enriquecimento da nação, a recompensa generosa do trabalho e o crescimento demográfico. Segundo ele “um dado incremento da riqueza não cria sempre uma pro- cura proporcional de trabalho” e portanto uma ele- vação dos salários. A causa para Barton era simples: “os industriais e os agricultores… investem por vezes as suas acumulações [de capital] na constru- ção de maquinaria, ou em melhoramentos perma- nentes do solo, calculados para proporcionaremum produto igual com um menor número de trabalha- dores; noutros momentos, investem-nas para con- tratar mais trabalhadores com o objetivo de levar ao mercado uma produção maior”. 7 O que deter- minaria a proporção do investimento destinada a maquinaria no investimento total seria o nível dos salários, ou melhor o peso dos custos salariais no valor da produção do trabalho. 6 Barton, Jonh (1817) “Observations on the Circumstan- ces Which Influence the Conditions of Labouring Classes of Society”, Londres: John and Arthur Arch. John Barton (1755–1789) foi um economista político de inclinações filantrópicas. Fundou o Birkbeck College, chamada Lon- don Mechanics’ Institution, cuja missão original era a educação de trabalhadores. 7 Ibid. , p. 17 Na sequência deste opúsculo, John McCulloch – um economista político escocês estreitamente rela- cionado com David Ricardo – publicaria em 1820 um artigo em que, aprovando as ideias de Barton, escrevia: “o capital fixo investido numa máquina, tem necessariamente de substituir uma quantidade maior de capital circulante [aplicado em salários], – já que doutro modo não haveria motivação para a sua construção [da máquina]; e deste modo o seu primeiro efeito é afundar, e não elevar, a taxa dos salários”. 8 Na sequência da publicação deste artigo, David Ricardo em carta a McCulloch manifestava a sua discordância – “a utilização de maquinaria… nunca reduz a procura de trabalho – nunca é uma causa da queda do preço do trabalho, mas antes um efeito do seu aumento”, – dando início à controvér- sia de que seguidamente se dará conta. 9 A teoria da compensação Em 1821, em consequência da crítica de Ricardo, McCulloch revia a sua opinião, expondo aquela que viria a ser conhecida por ‘teoria da compensa- ção’: “nenhum melhoramento da maquinaria pode diminuir a procura de trabalho, ou reduzir a taxa de salários. A introdução de maquinaria num dado emprego, ocasiona necessariamente uma procura igual ou maior de trabalhadores nalgum outro emprego”. 10 A teoria da compensação, não obstante a posterior mudança de opinião de Ricardo e a crítica de Marx, 8 Citado em Sraffa, Piero (2004), “Introduction”, Piero Sraffa (Ed.), “The Works and Correspondence of David Ricardo”, Vol I, Indianapolis: Liberty Fund, p. lviii. Disponível em http://oll.libertyfund.org/titles/ricardo-the-works-and- correspondence-of-david-ricardo-11-vols-sraffa-ed 9 Ibid. , p. lviii 10 McCulloch, John (1821), “The Opinions of Messrs Say, Sismondi, and Malthus, on the Effects of Machinery and Accumulation, Stated and Examined”, Edinburgh Review , Março 182, p. 115

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