Cultivar_10_Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais

cadernos de análise e prospetiva CULTIVAR N.º 10 DEZEMBRO 2017 16 nova tenologia destruirá muitos postos de trabalho, mas criará também muito emprego”. 4 Solução para a escassez de mão-de-obra, destrui- ção de emprego, ou destruição compensada com criação de novo emprego? A CNN não tem a certeza. E na verdade, tirando os mais afoitos que se ima- ginam capazes de prever o imprevisível – a natu- reza e as consequências da adoção de tecnologias que ainda não foram testadas ou mesmo inventa- das –, ninguém sabe ao certo. Não sabemos mesmo se estamos ou não perante uma vaga tecnológica comparável em consequências às experimentadas no passado, como as que decorreram da invenção da máquina a vapor, da eletricidade e do motor a combustão. Sabemos, no entanto, que não é a primeira vez que a inovação tecnoló- gica e as consequências da adoção de novas tecnolo- gias no emprego e no traba- lho ocupam um lugar des- tacado no debate público e sabemos, também, que as ‘velhas’ controvérsias, tem- peradas pela experiência histórica realmente vivida, podem muitas vezes trazer mais luz a debates pre- sentes do que as especulações infundadas e muitas vezes delirantes que hoje enchem os jornais. É na expectativa de que assim seja, isto é, que seja possível aprender com os debates e a experiência passada, que proponho neste breve artigo, em pri- meiro lugar, uma visita a uma ‘velha’ controvérsia acerca das consequências da tecnologia no traba- lho e no emprego e, em segundo lugar, um exame das previsões das teorias passadas feito à luz da 4 “Jack Ma: We need to stop training our kids for manu- facturing jobs”, de Julia Horowitz, 20 de Setembro, 2017, CNNTech, disponível http://money.cnn.com/2017/09/20/ technology/jack-ma-artificial-intelligence-bloomberg- conference/index.html experiência realmente vivida e, por fim, uma breve reflexão em torno dos ensinamentos que resultam das duas excursões anteriores. As origens É à Inglaterra dos séculos XVIII e XIX que devemos viajar se queremos reconstruir desde a origem o debate sobre as consequências da tecnologia no trabalho e no emprego 5 . É aí que em 1779 encontra- mos o lendário Ned Ludd a destruir uma máquina de tricotar meias, assim como sucessivos episódios muito reais de destruição de máquinas por traba- lhadores. As revoltas dos trabalhadores industriais contra a mecanização e o desemprego em Inglaterra atingi- riam o seu apogeu entre 1811 e 1819 com o movi- mento que veio a ser desig- nado de Ludita. A extensão deste movimento foi tal e tão alarmante que em 1812 o governo inglês, sob pres- são dos capitalistas indus- triais, levou o parlamento a aprovar uma lei ( Frame Breaking Act ) que previa a condenação à morte de pessoas incriminadas pela destruição de máquinas. No mesmo ano, na sequência da destruição de uma fábrica no condado de York, 64 trabalhadores foram detidos e 13 condenados à morte. Depois de 1819, o movimento Ludita regrediu na indústria, mas renasceu nos campos. Entre 1830 e 1833, no episódio que ficou conhecido pela Rebe- lião de Swing, ocorrido no Sul e Leste da Inglaterra, trabalhadores agrícolas destruíram debulhadoras mecânicas. 5 Ver a este respeito Couto, J. M.; Garcia, M. F.; Freitas, C. E.; Silvestre, R. C. (2011), “Desemprego tecnológico: Ricardo, Marx e o caso da indústria de transformação brasileira (1990-2007)”, Economia e Sociedade , vol. 20,n.º 2, disponí- vel em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex t&pid=S0104-06182011000200004 Sabemos, no entanto, que não é a primeira vez que a inovação tecnológica e as consequências da adoção de novas tecnologias no emprego e no trabalho ocupam um lugar destacado no debate público…

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw