CULTIVAR 1 - Volatilidade dos Mercados Agrícolas

56 agressivo. E tendo, eventualmente, para isso o apoio da Rússia. Neste quadro, o laço atlântico não poderia dei- xar de ponderar a alteridade básica dos Estados Unidos, uma federação com um cimento estrutu- ral que a UE nunca terá, com uma omnipresença mundial baseada num poder naval sem parale- lo, com um persistente “soft power” projetando e multiplicando influência e força, sujeita a (ape- nas normais) objeções, acusações e situações de conflito, e contemplando, bem obviamente, as Américas, e os seus dois oceanos, a deslocação de processos para o Pacífico dando porém a este uma importância maior do que no passado ime- diato. Falou-se em determinado momento de um G-2, de uma predominância “absoluta” dos EUA e China. O ocaso do euromorfismo faz de um tal cenário uma hipótese delicada. Foi afinal a Euro- pa que estabeleceu as regras mais básicas para as relações internacionais e foi a Europa que, no seguimento da II Guerra Mundial se dedicou, como tema recorrente, a um “Zivilizierung des Konfliktes”, a uma “civilidade dos conflitos”, o projeto europeu sendo afinal baseado numa afir- mada ultrapassagem, sem discussão do “right” ou “wrong” de uns e outros, dos motivos seculares de conflito na Europa levados ao absurdo pelo terrí- vel drama daquela guerra, para a imediata passa- gem à abordagem de quanto poderia ser feito em comum para benefício geral. Todo este grande quadro tende hoje a apagar- -se ou a tomar novos cambiantes, tais modula- ções fazendo-lhe correr o risco de um esbatimento a ameaçar a sua razão de ser e a integridade dos seus fundamentos, pondo em risco a legitimidade em si da governação internacional. De Vestefália para o nada – com respiração contida é o pano- rama que se desenharia, os resquícios do anterior regime sendo vistos como fundamento, sim, para a hipocrisia de uma ativa profusão declarativa, es- condendo fraquezas e abusos, ou, quando não so- bretudo, atuações à margem dos ditames que se afirma porémsolenemente respeitar. E temhavido a aparente tentação de, num quadro de ausência de regras, promover pensamentos unidimensio- nais que se esquivam à ponderação de posições e interesses de outros, prevalecendo, bem pelo con- trário, uma sua qualificação liminar como inad- missíveis desde que contrários a uma “verdade” proclamada atuando na base da indiscutibilidade dos “factos” e na condenação de quanto a ofenda. Não poderiam efetivamente tais retóricas, mesmo que não traduzidas em agressão declarada, deixar de ser acusatórias e beligerantes – e desprezando o seu fatal efeito de boomerang. A diplomacia correria, num tal quadro, o risco de perder capacidade para atenuar tensões, acal- mar os contenciosos, prevenir conflitos ou apa- ziguar as situações que lhes sucedem. Avanços na cooperação em áreas da mais séria relevância poderiam ser deitados a perder, o Espaço sendo caso flagrante, diretamente relacionado com ve- tores do desarmamento e não-proliferação e de um desenvolvimento tecnológico multidisciplinar de vantagem mútua – substituindo-se-lhe um dos potenciais mais sérios terrenos de batalha. E, fal- tando um quadro de regras comuns, os problemas pareceriam acumular-se, assimetricamente dis- persos, e todos apresentando extrema urgência na sua resolução, urgência tanto maior pela ausência de tal quadro e de uma visão consistente do que ocorre nos vários casos. A crise ucraniana, o ISIS e o Ébola somam-se – em “desordem”, e urgência de ação. Mais não fazemde facto do que somar-se. O evento toma o lugar do problema que lhe sub- jaz, a apreensão e estudo dos seus parâmetros não cabendo na pulsão para a divulgação imediata do que ocorre a cada momento. Sabe-se da dimensão da gravidade dos problemas, os criados pela crise ou os da agudeza do relacionamento entre credos religiosos. Mas a simplificação obrigatória – um pensamento ocidental que poderia correr o risco de tornar-se residual em relação à anterior tabela de valores, contraposto ao de um “World Without the West” – tolhe a perspetiva necessária a uma

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